sábado, 26 de dezembro de 2009

O mito do xampu sem sal!

Há muito tempo que eu ouço a mesma história: Não use xampu com sal, faz mal, resseca, reverte o alisamento feito pela progressiva.
Sinceramente, até hoje ainda não achei nenhuma explicação plausível pra essa recomendação.
Para que você entenda um pouco mais vou fazer uma breve contextualização:

O que é o “sal” (NaCl – cloreto de sódio – sodium chloride) no xampu?

O sal tem como função o espessamento do xampu. Esse espessamento é feito para tornar mais fácil a aplicação do xampu nos cabelos, evitando que ele escorra facilmente. Além disso, um xampu pouco viscoso gera uma sensação de “ralo”, “pouco concentrado”, assim o espessamento também tem um papel na melhora dos aspectos sensoriais.
O sal interage com as cadeias dos tensoativos (que são responsáveis pela limpeza propriamente dita dos cabelos) fazendo com que eles “aumentem de tamanho” (em linguagem técnica: ocorre um aumento do tamanho de micela) e isso gera um aumento na viscosidade final do produto.
A quantidade de sal que é colocada pra se obter esse resultado é geralmente inferior a 1 %. E seria possível colocar mais? NÃO!
Conforme aumenta a quantidade de sal colocada, maior é a viscosidade adquirida, entretanto, isso tem um limite, uma quantidade máxima, pois se essa for excedida O PRODUTO PERDE A VISCOSIDADE TOTALMENTE, voltando a parecer “água”. Ou seja, por mais que uma empresa queira colocar mais sal ela não poderá, pois seu produto não ficará adequadamente viscoso. Assim, qualquer xampu que tenha sal na composição não o apresentará em quantidade muito alta (em geral abaixo de 1 %).
Mas permanece a dúvida: Porque a recomendação de não usar xampu com sal?
Na minha sincera opinião: jogada de marketing por parte das indústrias de cosméticos! O sal é uma matéria-prima barata perto dos outros espessantes (inclusive por ser usado em baixa quantidade). O uso de outros espessantes mais caros, além de todo o mito criado contra o uso do sal, permite que as empresas possam vender produtos mais caros.
Não existe uma explicação plausível para essa recomendação!

Algumas explicações que achei na internet são completamente infundadas, por exemplo:

- O SAL RESSECA O CABELO, PROVA DISSO É COMO FICAM OS CABELOS COM O SAL DO MAR NA PRAIA.

1º - O sal é um composto altamente solúvel em água, logo, com uma ducha de água nos cabelos você rapidamente consegue retirar todo o sal dos cabelos.
2º - A quantidade de sal no mar é de 3 a 5 vezes maior que a de qualquer xampu.
3º - Na água do mar não tem só sal e água, e sim diversos outros compostos químicos, além de sujeira e microorganismos imperceptíveis ao olho humano. O cabelo não fica ressecado depois de um banho de mar e sim sujo!
4º - O que resseca os cabelos na praia não é a água do mar, e sim as radiações solares as quais estamos expostos! Lembre-se que mesmo em dias nublados estamos sujeitos às radiações UV (sim! Elas podem ultrapassar as nuvens e lesar nossa pele e cabelos).

- O SAL REAGE COM OS PRODUTOS DE ALISAMENTO E REMOVE-OS REVERTENDO O ALISAMENTO

No alisamento, os produtos utilizados não ficam no cabelo pra sempre. Eles são aplicados e através de reações químicas modificam as ligações químicas do cabelo, sendo retirados após todo processo. Não existe um alisamento que deixe um produto no fio que “segure” o fio para ele não encrespar!
Além disso, não há relatos na literatura que comprovem que existe uma incompatibilidade química entre o sal do xampu e cabelos alisados, capaz de reverter quimicamente o alisamento.

- O SAL AUMENTA O pH DO XAMPU, E ISSO É PREJUDICIAL.

A quantidade de sal colocada nos xampus não é suficiente para alterar o pH do xampu. Além disso, o xampu de limpeza profunda, que tem pH mais alto, não tem seu uso proibido para pessoas que fazem alisamento.


Enfim, enquanto uma explicação (cientificamente comprovada) não aparecer sigo com a mesma opinião: a recomendação do uso de xampu sem sal é jogada de marketing das empresas de cosméticos para supervalorizar seus produtos, agregando valores mais altos a eles!
Até porque o nosso suor tem sal (sim! NaCl)... então devo pensar que o suor é capaz de ressecar os cabelos e reverter o processo de alisamento capilar?

Se vocês tiver alguma explicação plausível, com algum embasamento químico, por favor deixe postado aqui!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Nota - Protetores solar

Tanto a ANVISA (Agência nacional de Vigilância Sanitária) quanto o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) ainda não se manifestaram sobre o teste com 10 protetores solar feitos pelo Pro Teste.
Apenas a Sociedade Brasileira de Dermatologia se posicionou informando que não reconhece como válido o teste.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Curiosidades a respeito de bronzeamento e tons de pele

Nossa Cor!

A nossa cor provém da misturas de vários pigmentos existentes no nosso corpo. Os principais são a Eumelanina (coloração marrom) e a Feomelanina (coloração vermelha e amarela).
Esses dois pigmentos são sintetizados a partir do aminoácido tirosina. A partir de reações bioquímicas da enzima tirosinase, presente nos melanossomas (complexo que produz a melanina dentro das células chamadas melanócitos, que ficam nas camadas mais profundas da pele), a tirosina é convertida em eumelanina ou, juntamente com outro aminoácido (cistina), convertida em feomelanina.
A diferença nos tons de pele se da pela diferença de tamanho dos melanossomas presentes em cada melanócito, e não pela quantidade de melanina produzida (essa é sempre igual). Ou seja, peles brancas têm melanossomas com eumelanina menores que os melanossomas de eumelanina produzidos pela pele negra.
Alguns pigmentos como a hemoglobina (pigmento vermelho do sangue) e os carotenóides (pigmento laranja presente na pele que pode ser obtido também pela alimentação) contribuem para o tom final da pele.

Bronzeamento

A melanina é um fotoprotetor natural, assim depois de produzida, a melanina é transferida para as camadas mais superficiais da pele para conferir essa proteção frente aos danos que o sol pode provocar.
Quando somos expostos às radiações UV, ocorre um estímulo celular aumentando a produção de pigmentos nos melanócitos. Devido a essa resposta biológica é que ficamos mais escurinhos após uma exposição mais prolongada ao sol.
Mas daí surge a pergunta: Porque tem gente que fica horas no sol e não pega uma corzinha?
Simples! Em algumas pessoas a melanina produzida degrada durante o processo de transferência até a superfície da pele, não aumentando o tom da cor final da pele. Vale lembrar aqui que essas pessoas, por esse motivo, têm uma suscetibilidade maior a danos cutâneos e por isso devem usar um filtro solar potente!

Autobronzeadores e Bronzeamento a jato

Os autobronzeadores do mercado e o bronzeamento a jato têm como principal componente a Dihidroxiacetona (DHA). A DHA liga-se aos aminoácidos da nossa pele resultando em compostos com pigmentos que variam do laranja ao marrom, esses pigmentos têm a capacidade de ficarem retidos à pele por dias. Conforme a composição (de aminoácidos) de cada pele tem-se uma ou outra coloração final. Por isso que algumas pessoas que usam esses produtos ficam morenas (com aparência de bronzeado do sol) e outras ficam meio alaranjadas!



Aceleradores de bronzeamento

Esses produtos têm tirosina e cistina na sua composição (aqueles aminoácidos que são convertidos em eumelanina e feomelanina). Algumas empresas afirmam que a aplicação desses aminoácidos diretamente sobre a pele poderia estimular a produção de melanina (eu não acredito que essas formulações consigam penetrar profundamente na pele para aumentar a quantidade desses aminoácidos no sítio de produção da melanina – também, alguns autores afirmam que o aumento da quantidade dos aminoácidos no sítio de ação não aumenta a quantidade de reações de conversão).

Cápsulas de Betacaroteno

O betacaroteno é um pigmento alaranjado presente na pele. O consumo através de cápsulas ou alimentos (como a cenoura) pode aumentar a quantidade dele na pele. O problema é que um excesso de ingestão de betacaroteno, ao invés de resultar em um aspecto mais bronzeado, pode acabar resultando em um aspecto mais alaranjado.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Protetores solar reprovados?

Quando a radiação UV atinge a pele, uma parte dela é refletida e a outra parte é absorvida. Como resposta a essa absorção, ocorre o desenvolvimento de eritema (vermelhidão na pele), melanogênese (produção de melanina, o que dá a coloração à pele) e o aumento de queratinócitos (células que formam a epiderme - camada mais superficial da pele). Também pode ocorrer a alteração do pH da pele, levando a desidratação, xerodermia (Secura excessiva da pele com descamação fina e pulverulenta), e descamação (é quando a pele descasca depois de um tempo).
Como conseqüência a uma exposição demasiada pode haver a formação de queimaduras da pele, desde as mais leves (caracterizadas por uma vermelhidão dolorida) até queimaduras de 3º grau (com formação de bolhas e feridas inflamadas). Além disso, a radiação solar pode induzir a formação de radicais livres, que são os responsáveis pelo desenvolvimento de rugas.
A radiação UVA é menos energética, porém penetra mais profundamente na pele, podendo atingir as camadas mais profundas. Ela é a responsável pelo fotoenvelhecimento. Já a radiação UVB é menos penetrante, porém ela também pode atingir camadas mais profundas e contribuir no fotoenvelhecimento. Além disso, a radiação UVB tem o poder de atingir o DNA das células podendo desenvolver um câncer de pele.

Para contextualizar: Radiação UVA é a radiação das câmaras de bronzeamento artificial. Ela é menos agressiva, mas pode causar grandes danos, por isso a proibição do uso dessas câmaras pela ANVISA
(http://www.anvisa.gov.br/DIVULGA/NOTICIAS/2009/111109.htm).

Os filtros solar atuam absorvendo a radiação UV transformando-a em radiações menos energéticas e mais inofensivas ao nosso organismo. Eles são usados para proteger o corpo das radiações que somos expostos diariamente.
Essa semana o jornal O Globo publicou os resultados de testes feitos com filtros solar pelo “Pro Teste” (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor). Nesse teste 8 marcas, de 10 analisadas, foram reprovadas por diferentes motivos.

“Foram avaliados os produtos Avon Sun, L'Oreal Solar Expertise, Cenoura & Bronze, Helioblock (da La Roche Posay), Episol Loção Oil Free, Coppertone Loção, Sundown Complex, Natura Fotoequilíbrio, Nívea Sun e Banana Boat Bloqueador Solar Ultra (todos com FPS 30).
No teste, foram examinados fatores como: a quantidade de informação no rótulo, a qualidade das substâncias em sua composição, a chance de causar irritabilidade, a hidratação, a proteção, a resistência à água e sua textura.”

(http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2009/12/01/pro-teste-reprova-oito-marcas-de-protetor-solar-entre-eles-produtos-como-sundown-avon-nivea-banana-boat-la-roche-posay-914998729.asp)

A revista Marie Clair traz mais detalhados os resultados de cada filtro:
http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI107935-17605,00-PROTETORES+SOLARES+DERRAPAM+EM+TESTE+DE+RESISTENCIA+CONFIRA+O+RESULTADO.html

Pra você entender o porquê da reprovação desses filtros:

Perda do FPS: O FPS informa quantas vezes mais um indivíduo pode ficar exposto ao sol com filtro, em relação ao tempo que queimaria sem filtro (ou seja, com um protetor solar de FPS 30 você está 30 vezes mais protegido do que quando não usar filtro). Por isso é importante que o filtro solar mantenha o seu grau de proteção por um período prolongado. Muitos filtros garantem (no rótulo pelo menos) 8 horas de duração. Marcas como Nívea e Sundown foram reprovadas por perderem 50 % da sua capacidade de proteção na primeira hora de uso. Já a marca Copertone foi reprovada por declarar um FPS de 30 na embalagem e conter um FPS de 25. Embora essa diferença possa não ser significativa para pessoas de pele mais escura, para pessoas de pele muito clara essa diferença é muito grande.
Resistência à água: é importante que os protetores solar sejam resistentes à água, ou seja, que não saiam (nem parcialmente!) após um banho de mar, piscina, riacho e etc. Marcas como Sundown e Natura foram reprovadas por apresentarem uma redução do produto para 55 % e 30 % respectivamente.

Dicas importantes para uso de protetores solar
- Embora a validade do frasco seja de dois anos, após abertura do produto ele não dura muito se não for guardado corretamente (longe do calor e da luz). O ideal mesmo é comprar um protetor solar novo a cada veraneio.
- A quantidade que se passa não precisa ser grande, porém deve ser suficiente para cobrir toda a área que se deseja proteger. A reaplicação com o passar do tempo é muito importante!
- O Produto deve ser aplicado 20 minutos antes da exposição ao sol. Dessa forma ele adere melhor à pele tendo um resultado melhor.
- Cuide para não colocar a roupa antes que produto seque totalmente, pois isso pode acabar retirando parte do produto aplicado.

Algumas literaturas interessantes:
- Protetor Solar FPS100 - Photoprot - Desenvolvido por alunos da UFRGS em parceria com a Biolab! (http://bala-magica.blogspot.com/2009/11/photoprot-primeiro-fotoprotetor-100.html)
- Karina Paese – Dissertação de Mestrado da Faculdade de farmácia da UFRGS (http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/13393).
- Débora Nakai – Dissertação de Mestrado do instituto de química da UNICAMP (http://biq.iqm.unicamp.br/arquivos%20/teses/ficha35173.htm)
- http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/protetorSolar.asp
- Revista Química Nova, volume 30, número 1, pág 153-158, 2007.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Plástica Capilar?

"Se a tesoura não está nos seus planos, ou mesmo enfrentar o verão com os cabelos curtos, invista em técnicas poderosas de recuperação dos fios, como fez a comediante Claudia Rodrigues. Ela utilizou a técnica de plástica capilar das 12 proteínas para recuperar o aspecto saudável dos fios, que são tingidos."

Esse trecho foi retirado de uma reportagem do site Beleza e Bem Estar (Terra), que me foi enviado por e-mail hoje. Ao ler essa reportagem levei um choque: “Como assim PLÁSTICA CAPILAR???”
O nome é muito estranho, e mais estranho ainda eram os componentes da fórmula que o site citava. Entre eles estavam:

- damasco
- ginseng
- extrato de rubi
- queratina
- proteínas da seda
- polímeros de silicone
- óleo de cacau
- melaço da cana
- aminoácido
- ômega 3


Fui para literatura científica (que sinceramente é a única que ainda confio) para ver se havia alguma referência de uso desses componentes. Abaixo estão alguns achados.

Damasco: Existe um produto para crescimento capilar e restauração que usa “Japanese Apricot”, que acredito ser um tipo de damasco. A patente relata que o extrato é capaz de auxiliar no crescimento e regeneração da fibra capilar (mas não achei a explicação do porque).

Ginseng: Alguns estudos indicam uma ação para crescimento capilar e restauração medular. A medula capilar não está presente em toda a haste (somente na porção inicial – na parte que fica para dentro da pele), e tem pouca participação na estruturação do fio (no seu brilho, maleabilidade), não sendo alvo dos produtos cosméticos. Nesses estudos são feitos testes in vitro utilizando cultura celular, ou seja, a aplicação in vivo, tópica, não foi testada (não se sabe se o extrato de ginseng é capaz de permear a pele para atingir o bulbo capilar auxiliando na reconstrução da medula e no crescimento).


Obviamente que extrato de rubi e o melaço de cana não tinham referências de uso na literatura científica. Sinceramente, acredito que não seja possível fazer um extrato de rubi. Os demais componentes são utilizados por suas propriedades emolientes e protetoras.

Procurando um pouco mais a respeito desse tratamento, achei no site da Abril.com (Revista Boa Forma) uma explicação mais plausível a respeito:

"Essa nova técnica de revitalização foi desenvolvida pela indústria cosmética japonesa (sim, a mesma que criou o recondicionamento térmico para alisamento de longa duração) e, em pouco tempo, ganhou adeptas fervorosas no mundo todo. Tecnicamente, trata-se de um processo capaz de repor as proteínas perdidas. “Em outras palavras, significa nutrir internamente os fios, o que vai deixá-los macios, brilhantes, maleáveis”, explica Aldeni Ribeiro, proprietária do salão Lay Out, em São Paulo (SP), um dos primeiros a divulgar a técnica."


Em outras palavras, trate-se de um procedimento já conhecido: a (re)queratinização capilar.
A queratina é a proteína predominante na estrutura do fio capilar. Quando o fio passa por processos como limpeza, escovação ou tratamentos químicos, uma quantidade grande de queratina é perdida ou danificada. Isso leva a uma diminuição na maleabilidade do fio (ele fica mais quebradiço), perda do brilho e ressecamento.
Para o alisamento capilar, por exemplo, é necessária a desestruturação dessas cadeias protéicas para poder dar nova forma aos cabelos. Embora exista uma etapa para a recomposição das cadeias de queratina, geralmente essa é incompleta, e nem todas as cadeias desestruturadas voltam a se reestruturar. Assim o fio fica danificado, mais frágil e mais vulnerável.


Dessa forma, muitos produtos para recuperação capilar são preparados primordialmente com queratina. Outras proteínas também são incorporadas para tentar reestruturar o fio capilar. Na plástica capilar (assim como em outros tratamentos iguais, porém com nomes diferentes) os passos são basicamente os seguintes:

- Lavagem inicial dos cabelos com xampu de limpeza profunda: esses xampus possuem um pH a cima de 7, o que proporciona a abertura da cutícula capilar, permitindo uma limpeza maior. Além disso, essa abertura das cutículas ainda irá permitir que o próximo produto aplicado tenha uma penetração maior (mais profunda).

- Aplicação de um creme a base de queratina e outras proteínas: para tentar reparar os danos que o cabelo sofreu. Nessa etapa pode-se aplicar uma fonte de calor, para acelerar e aumentar a penetração desses ativos.

- Aplicação de um segundo creme: esse segundo creme pode ser aplicado ou não. Geralmente ele contém alguns outros componentes condicionantes, emolientes, para um resultado melhor. Muitas vezes esses cremes podem conter ceramidas. As ceramidas têm um papel de “cimento” entre as cutículas, ou seja, são capazes de fechar aquelas cutículas que foram inicialmente abertas, deixando o cabelo com um aspecto mais sedoso, mais “solto”.

- Escova ou chapinha (prancha): como última etapa aplica-se uma nova fonte de calor para “selar” os produtos no cabelo, ou seja, garantir a fixação deles à haste capilar, assim como tentar fazer o fechamento das cutículas abertas. Além disso, a chapinha ou a escova conferem um formato mais organizado aos cabelos, sendo uma espécie de retoque final.

Sinceramente eu acredito que essa última etapa seja feita mais para garantir um cabelo bonito no final, para que a cliente acredite que o tratamento realmente funcionou (não que não funcione, mas milagres não são possíveis). O correto seria deixar o cabelo secar naturalmente pra ver o aspecto real que ele ficou.


Algumas referências interessantes para se ler são:

Polymer, vol. 39, n.16, pag.3835-3840, 1998.

Clinics in Dermatology, vol. 19, pag. 341-346, 2001.

Phytotherapy. Research, vol. 17, pág. 797–800, 2003.

U.S. Patent number: 4369037 - Hair treatment cosmetics containing cationic keratin derivatives.

Site da revista Boa Forma: http://boaforma.abril.com.br/beleza/cabelo/plastica-cabelos-497254.shtml?pagina=0

Reportagem retirada do Site do Terra - http://beleza.terra.com.br/mulher/interna/0,,OI4130167-EI7590,00-Plastica+capilar+das+proteinas+impressiona+a+comediante.html

Se surgirem dúvidas é só perguntar!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A Linguagem dos cabeleireiros

"Vivemos entre palavras e por meio delas revelamo-nos para nós próprios e para os outros, buscamos e obtemos informações, comunicamo-nos com os demais; fazemos parte do mundo; representamo-lo e por ele somos representados."

 
Esse trecho eu retirei de um artigo que casualmente eu encontrei no Google Acadêmico enquanto procurava por algum assunto interessante para postar. Trata-se de um trabalho desenvolvido por uma professora da UNIASUAM, Dra Tânia Maria Nunes de Lima Camara. Ela buscou, em salões de beleza (no Rio de Janeiro), os termos mais utilizados por cabeleireiros com o objetivo de fazer um estudo da língua portuguesa na área lexical. O foco considerado foram as atividades realizadas por cabeleireiros, ou seja, os “produtos” que eles “vendem”, tendo como matéria-prima o cabelo de suas clientes.
Achei bastante interessante porque existem tantos termos nessa área, que muitas vezes nós, consumidores e clientes, nos perdemos e ficamos confusos. Então ai vão os principais termos relacionados no trabalho dessa professora:

ALISAMENTO. Ato de tornar lisos cabelos naturalmente crespos ou ondulados. O mesmo que desfrisagem

ALISAMENTO JAPONÊS. Alisamento e modelagem duradoura do cabelo. O tempo de duração é de seis a oito meses.

“ASTRONG”. Produção de mechas de diferentes tons em porções de cabelo mais volumosos do que a mecha tradicional.

“BABY-LISS”. Produção de cachos artificiais. Ao lavar, o cabelo volta ao normal.

BALAIAGE. Tingimento que produz o efeito de tom sobre tom. É feita com tinta usada no tingimento comum ou com descoloração.

“BOB”. Pequeno tubo cilíndrico usado para enrolar o cabelo, de modo a produzir efeito de ondulação.

BRILHO. Descoloração de mechas finas de cabelo, produzindo tom claro sobre tom escuro. O mesmo que luzes.

BUCLES. Tipo de enrolamento em que o cabelo é enrolado no dedo, formando rolinhos. Denominação atual do antigo “mis-én-plus”.

CARACOL. Forma de enrolamento em que as mechas de cabelo são enroscadas como caracol e presas com grampo.

CHAPINHA. Alisamento quente para tirar a ondulação do cabelo e unificar as pontas. O mesmo que prancha ou piastra.

DECAPAGEM. Retirada, com produto próprio, da pigmentação artificial do cabelo.

“DÉGRADÉE”. Tipo de corte em que o cabelo apresenta diferentes comprimentos, ficando mais curto na parte de cima da cabeça e mais comprido para baixo. O mesmo que camadas ou Pigmalião.

DESCOLORAÇÃO. Ato de retirar pigmentação artificial de modo a igualar a cor antes de fazer novo tingimento.

DESFRISAGEM. Ato de tornar lisos cabelos naturalmente crespos ou ondulados. O mesmo que alisamento.

ESCOVA. Modelagem do cabelo, alisando-o ou encrespando-o. Uso de secador e escova cilíndrica.

HIDRATAÇÃO. Uso de produto próprio para tornar normal o cabelo ressecado, com o auxílio de touca térmica. O mesmo que massagem. Ocorrem dois tipos de variação: a HIDRATAÇÃO A VAPOR, que amplia a ação da hidratação comum, por unificar as pontas; a HIDRATAÇÃO PROFUNDA, em que são usados dois tipos de produto: o primeiro, para abrir os poros do cabelo; o segundo, para unificar e dar brilho.

LÁPIS COLORIDO. Tipo de retoque feito ao redor do rosto, na raiz do cabelo, para colorir cabelos grisalhos. O retoque sai na lavagem do cabelo.

LUZES. Descoloração de mechas finas de cabelo, produzindo tom claro sobre tom escuro. O mesmo que brilho.

MASSAGEM. Uso de produto próprio para tornar normal o cabelo ressecado, com auxílio de touca térmica. O mesmo que hidratação. Apresenta a variação MASSAGEM COLORIDA, que consiste na hidratação do cabelo e na eliminação de pontas queimadas ou danificadas.

MECHA. Clareamento de porções largas de cabelo. Essas porções podem ser divididas usando touca de borracha ou de silicone, papel alumínio e o cabo do pente.

PENTEADO. Arrumação do cabelo. O PENTEADO ARTÍSTICO apresenta diferentes recursos e enfeites no acabamento.

PERMANENTE. Ato de encrespar cabelos lisos, produzir cachos. O mesmo que volumode. Apresenta as variações PERMANENTE AFRO, que consiste em encrespar cabelos naturalmente crespos, e PERMANENTE TINTURADO, que tinge o cabelo e aumenta o seu volume.

PIGMALIÃO. Tipo de corte em que o cabelo apresenta diferentes comprimentos, ficando mais curto na parte de cima da cabeça e mais comprido para baixo. O mesmo que camadas ou "dégradée".

PRANCHA. Alisamento quente para tirar a ondulação do cabelo e unificar as pontas. O mesmo que chapinha ou piastra.

REFLEXO. Clareamento de mechas finas de cabelo, produzindo tom claro sobre tom escuro.

RELAXAMENTO. Alongamento de cabelos crespos, trabalhando desde a raiz.

RINSAGEM. Aplicação de produto próprio, diferente de tinta, para colorir cabelos grisalhos ou bem descolorados. Menos duradoura que a tintura.

"SPRAY" COLORIDO. Produção de efeito provisório de tom sobre tom. O produto sai ao lavar o cabelo.

TINTURA. Coloração. Mudança da cor do cabelo, com produto à base de oxidante, em geral amônia, que penetra nas escamas do cabelo.

TOUCA. Ato de rodear o cabelo na cabeça, com o auxílio de pente e de pinças ou grampos, de modo a torná-lo flexível. Apresenta a variação TOUCA DE GESSO, que amplia a ação da touca comum, por também alongar cabelos crespos; depois de feita a touca, é aplicado o pó de gesso.

TRANÇA. Tipo de penteado em que é feito o cruzamento das mechas divididas no cabelo. Apresenta as variações: TRANÇA NORMAL, com o cruzamento das mechas feito de dentro para fora, e TRANÇA EMBUTIDA, com o cruzamento de fora para dentro.

Para aprimorar um pouco mais essa lista, resolvi colocar alguns outros termos que não apareciam no texto dela, mas tem certa relevância:

LEAVE IN. São condicionadores sem enxágüe. Por terem um conteúdo lipídico menor são mais leves e evitam o aspecto de cabelo engordurado (se a aplicação não for exagerada, logicamente)

PRODUTOS PARA DAR CORPO OU VOLUME. São produtos que possuem agentes químicos que retém água no cabelo, deixando-o hidratado e intumescido (“inchado”), o que confere uma sensação de mais volume ao fio.

PRODUTOS PARA DAR BRILHO. São produtos capazes de deixar a cutícula capilar (que são células achatadas, que se dispõe como “telhas de casa” sobre o fio capilar, protegendo-o) mais plana, assim, quanto mais plana estiverem, mais luz será refletida. É como olhar-se em um rio, se as águas estiverem paradas ele refletirá a sua imagem perfeitamente, já se uma brisa mover essas águas, não será mais possível ver o reflexo da luz.

XAMPU ANTI-RESÍDUO (ou Clarifying). São xampus que contem basicamente os detergentes/agentes de limpeza. Eles permitem a limpeza do fio sem deixar resíduos. É indicado para pessoas que tenham o costume de usar condicionadores sem enxágüe, spray fixador, ceras, géis e etc. Eles apresentam um pH a cima de 7 (alcalino) que provoca a abertura da cutícula. Isso possibilita uma limpeza maior. Mas é importante lembrar que esse tipo de xampu pode dar um aspecto de ressecado ao cabelo, por isso é importante a aplicação de um bom creme hidratante após o seu uso.

CERAS E POMADAS. São produtos à base de ceras capazes de resolver o problema dos cabelos arrepiados (ou “do frizz”). Eles ajudam também a moldar alguns penteados e aumentar o tempo de duração desses.

Existem ainda outros termos que não me ocorreram, mas se surgir alguma dúvida é só postar que eu tento responder!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A química do alisamento capilar



A procura por produtos e processos capazes de alisar os cabelos, é cada vez maior nos salões de beleza. Devido a isso, diferentes produtos e tipos de tratamento são oferecidos às clientes. Contudo, a diferença entre a ação dos ativos, os danos causados por esses e a efetividade do tratamento para cada tipo de cabelo são desconhecidas.
Com base nisso, fiz meu trabalho de conclusão de curso (lá na graduação ainda) sobre a ação desses ativos químicos, bem como a análise das formulações de produtos para o alisamento capilar disponíveis no mercado.
Encontrei quatro ativos com uso aprovado pela ANVISA:
- tioglicolatos (os mais usados pelos produtos de marcas famosas como L'Oreal, Wella, Schwarzkopf),
- hidróxidos (sódio, cálcio ou lítio),
- guanidina,
- pirogalol (O antigo Henê Pelúcia)
Suas ações modificam a estrutura capilar por rompimento (e posterior rearranjo) das pontes de dissulfeto (formada por 2 moléculas de enxofre), na estrutura da queratina, ou por transformação dessas mesmas ligações em pontes de sulfeto (formada por 1 molécula de enxofre). A primeira modificação não é definitiva e pode ser revertida (um cabelo alisado pode ser novamente encaracolado), todavia a segunda modificação é definitiva (irreversível).
A coerência do nome dos tratamentos, entretanto, com o tipo de ação do ativo, não existe. No mercado, tanto a “escova progressiva”, quanto a “escova definitiva”, não seguem um padrão de produto aplicado a cada uma. Na realidade o que muda apenas é a concentração do ativo, pois quanto mais concentrado ele estiver, mais pontes de dissulfeto ele irá modificar alisando mais os cabelos. Logicamente que existe uma concentração máxima para cada ativo. Também existe todo um trabalho de marketing que leva a criação de diferentes nomes para os mesmos tratamentos. Isso para chamar a atenção das clientes e diferenciar um novo produto no mercado, dai surgem a famosa escova de chocolate, escova marroquina, escova de morango (e de outra tantas frutas cheirosas).
Essas formulações contêm, além do ativo alisante, uma quantidade alta de agentes para reposição da porção lipídica (oleosa, responsável pela hidratação e brilho do fio), a qual é perdida durante o tratamento, deixando o cabelo mais frágil (suscetível a agressões de agentes externos como o sol, vento, secador de cabelo e chapinha) e com aparência ressecada. Por isso existe uma necessidade tão grande de hidratar periodicamente os cabelos que sofreram algum processo de alisamento.
Embora todas as formulações tenham quase sempre o mesmo ativo, com concentrações parecidas, a diferença entre cada uma irá se dar pelos chamados adjuvantes (que são os outros componentes presentes, além do ativo). Entre os principais adjuvantes estão: silicones, óleos (como o de castanha, buriti, macadâmia), algumas manteigas (como a de cacau) e essências. Óleos, silicones e manteigas têm como principal objetivo repor os ácidos graxos que ficam naturalmente ligados à superfície do fio de cabelo conferindo proteção, maleabilidade (que é a capacidade do fio de mover-se sem quebrar) e brilho. Já as essências (que muitas vezes são colocadas no nome do tratamento, como no casa da escova de chocolate/morango) são usadas para mascaras o odor desagradável que o ativo alisante tem (pelo que me informei, a escova marroquina usa uma forte essência de baunilha).
Embora exista a diferença teórica nos processos de alisamento, os tratamentos disponíveis no mercado não apresentam essa diferença nas suas nomenclaturas. É necessário procurar um profissional com uma experiência consistente no assunto para escolher o tipo de ativo, para gerar o resultado esperado. Assim como xampus e condicionadores, cada cabelo se adapta melhor com uma marca. Não há como definir qual a melhor formulação para cada cabelo, apenas qual o ativo.

Quando pensamos na possibilidade de um caseiro, embora mais barato, é preciso lembrar que ele é mais arriscado. O tempo de permanência dos produtos em contato com os cabelos pode ser mal controlado, gerando um alisamento deficiente (pelo tempo ter sido menor que o indicado) ou danos, como quebras do fio de cabelo, irreversíveis (por tempo de contato em excesso). Além disso, muitas pessoas não têm condições de identificar riscos de incompatibilidades entre ativos (SIM! Existe incompatibilidade entre esses ativos e até mesmo deles com tintas e outras químicas capilares!).Dessa forma, o mais seguro é a aplicação em salões de beleza, sob os cuidados de profissionais com conhecimentos mínimos no assunto. Para isso, a busca por salões mais experientes no mercado, que utilizam produtos registrados na ANVISA, é o ideal.


A motivação

Nas últimas décadas, a beleza tornou-se o alvo, tanto de mulheres como de homens, no mundo inteiro. Definida pelas tendências de cada época, a moda dita os padrões ideais. Nesse contexto, não se visa somente a “perfeição” em roupas, calçados e acessórios, mas também em pele, unhas e, principalmente, cabelos. Segundo o censo do Franchising 2000, salões de beleza movimentam 3,1 milhões de reais por ano, atendendo clientes dentre os quais muitos estão permanentemente insatisfeitos com sua aparência física.
O conceito da imagem corporal segundo Osório (1992) é uma representação de experiências passadas e presentes, reais ou fantasiadas, conscientes ou inconscientes; é a idéia que o indivíduo tem de si próprio.
A necessidade de adquirir uma adequação física e social é dinâmica e muitas vezes pode pressionar homens e mulheres a buscar a aceitação em seus grupos de iguais. A parti de uma não aceitação podem surgir tensões e conflitos que resultarão em sentimentos de ansiedade, inferioridade, baixa auto-estima e retraimento súbito ou gradual (Kaplan & cols., 1997). Segundo Outeiral (1994), o corpo, nesse momento, assume um importante papel na aceitação ou rejeição por parte "da turma".
Assim, a busca por uma melhora na aparência física, abre as portas para o grande mercado dos cosméticos. Produtos surgem com milhares de promessas que muitas vezes não se cumprem e o consumidor leigo acaba sempre tendo que "pagar para ver".

É nesse âmbito que surgiu a idéia do presente Blog.

Permitam-me que eu me apresente: Meu nome é Denise, sou mestre em ciências farmacêuticas (e agora doutoranda) na área de cosmetologia. Sempre fui uma apaixonada pela área cosmecêutica, mas sempre senti uma carência de informações sobre o assunto, principalmente para leigos. Assim resolvi criar esse Blog, para discutir sobre o que são, como funcionam, mitos e verdades sobre cosméticos!

Espero que todos apreciem e participem através de discussões e informações!

A Estrutura da Pele

A pele é o maior órgão do corpo humano, composta por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme (camada mais interna de tecido adiposo). Ela atua como uma barreira protetora, prevenindo a perda de água e bloqueando a entrada de agentes exógenos.
Epiderme: é constituída de várias camadas de queratinócitos (células responsáveis pela produção de queratina) em diferentes estágios de maturação. Essa é a camada responsável pela prevenção da desidratação das demais camadas. Na epiderme está o extrato córneo, que é a parte mais externa da epiderme. O extrato córneo é a barreira protetora contra a penetração de substâncias estranhas ao corpo.
Derme: é um tecido elástico e resistente que proporciona resistência física ao corpo inteiro. Essa camada fornece os nutrientes para a derme e é formada por células como fibroblastos, granulócitos, colágeno, elastina, glicosaminoglicanos e glicoproteínas.


A Estrutura do Cabelo

O fio de cabelo é formado pelos seguintes componentes: a cutícula, o córtex e a medula.
Cutícula: é constituída por proteínas, é parte mais externa do fio, sendo responsável pela proteção das células do córtex. É a camada cujas propriedades estruturais servem de proteção contra influências externas, ela é responsável pelo ingresso e egresso de água, o que permite manter as propriedades físicas da fibra. É formada por células escamosas de queratina que se sobrepõem umas as outras, lembrando escamas de peixe, formando uma cobertura.
Cortex: ocupa a maior área seccionada do fio (75 %) e é constituído por células ricas em ligações cruzadas de cistina (enxofre) e células rígidas separadas uma a uma por uma membrana celular. O córtex é formado por macrofibrilas de queratina alinhadas na direção do fio. Distribuídos aleatoriamente no córtex estão os grânulos de melanina cujo tipo, tamanho e quantidade determinam a cor do cabelo.
Medula: No interior do córtex está localizada a medula, porém esse componente pode estar presente ou ausente ao longo do comprimento do fio.