sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A Linguagem dos cabeleireiros

"Vivemos entre palavras e por meio delas revelamo-nos para nós próprios e para os outros, buscamos e obtemos informações, comunicamo-nos com os demais; fazemos parte do mundo; representamo-lo e por ele somos representados."

 
Esse trecho eu retirei de um artigo que casualmente eu encontrei no Google Acadêmico enquanto procurava por algum assunto interessante para postar. Trata-se de um trabalho desenvolvido por uma professora da UNIASUAM, Dra Tânia Maria Nunes de Lima Camara. Ela buscou, em salões de beleza (no Rio de Janeiro), os termos mais utilizados por cabeleireiros com o objetivo de fazer um estudo da língua portuguesa na área lexical. O foco considerado foram as atividades realizadas por cabeleireiros, ou seja, os “produtos” que eles “vendem”, tendo como matéria-prima o cabelo de suas clientes.
Achei bastante interessante porque existem tantos termos nessa área, que muitas vezes nós, consumidores e clientes, nos perdemos e ficamos confusos. Então ai vão os principais termos relacionados no trabalho dessa professora:

ALISAMENTO. Ato de tornar lisos cabelos naturalmente crespos ou ondulados. O mesmo que desfrisagem

ALISAMENTO JAPONÊS. Alisamento e modelagem duradoura do cabelo. O tempo de duração é de seis a oito meses.

“ASTRONG”. Produção de mechas de diferentes tons em porções de cabelo mais volumosos do que a mecha tradicional.

“BABY-LISS”. Produção de cachos artificiais. Ao lavar, o cabelo volta ao normal.

BALAIAGE. Tingimento que produz o efeito de tom sobre tom. É feita com tinta usada no tingimento comum ou com descoloração.

“BOB”. Pequeno tubo cilíndrico usado para enrolar o cabelo, de modo a produzir efeito de ondulação.

BRILHO. Descoloração de mechas finas de cabelo, produzindo tom claro sobre tom escuro. O mesmo que luzes.

BUCLES. Tipo de enrolamento em que o cabelo é enrolado no dedo, formando rolinhos. Denominação atual do antigo “mis-én-plus”.

CARACOL. Forma de enrolamento em que as mechas de cabelo são enroscadas como caracol e presas com grampo.

CHAPINHA. Alisamento quente para tirar a ondulação do cabelo e unificar as pontas. O mesmo que prancha ou piastra.

DECAPAGEM. Retirada, com produto próprio, da pigmentação artificial do cabelo.

“DÉGRADÉE”. Tipo de corte em que o cabelo apresenta diferentes comprimentos, ficando mais curto na parte de cima da cabeça e mais comprido para baixo. O mesmo que camadas ou Pigmalião.

DESCOLORAÇÃO. Ato de retirar pigmentação artificial de modo a igualar a cor antes de fazer novo tingimento.

DESFRISAGEM. Ato de tornar lisos cabelos naturalmente crespos ou ondulados. O mesmo que alisamento.

ESCOVA. Modelagem do cabelo, alisando-o ou encrespando-o. Uso de secador e escova cilíndrica.

HIDRATAÇÃO. Uso de produto próprio para tornar normal o cabelo ressecado, com o auxílio de touca térmica. O mesmo que massagem. Ocorrem dois tipos de variação: a HIDRATAÇÃO A VAPOR, que amplia a ação da hidratação comum, por unificar as pontas; a HIDRATAÇÃO PROFUNDA, em que são usados dois tipos de produto: o primeiro, para abrir os poros do cabelo; o segundo, para unificar e dar brilho.

LÁPIS COLORIDO. Tipo de retoque feito ao redor do rosto, na raiz do cabelo, para colorir cabelos grisalhos. O retoque sai na lavagem do cabelo.

LUZES. Descoloração de mechas finas de cabelo, produzindo tom claro sobre tom escuro. O mesmo que brilho.

MASSAGEM. Uso de produto próprio para tornar normal o cabelo ressecado, com auxílio de touca térmica. O mesmo que hidratação. Apresenta a variação MASSAGEM COLORIDA, que consiste na hidratação do cabelo e na eliminação de pontas queimadas ou danificadas.

MECHA. Clareamento de porções largas de cabelo. Essas porções podem ser divididas usando touca de borracha ou de silicone, papel alumínio e o cabo do pente.

PENTEADO. Arrumação do cabelo. O PENTEADO ARTÍSTICO apresenta diferentes recursos e enfeites no acabamento.

PERMANENTE. Ato de encrespar cabelos lisos, produzir cachos. O mesmo que volumode. Apresenta as variações PERMANENTE AFRO, que consiste em encrespar cabelos naturalmente crespos, e PERMANENTE TINTURADO, que tinge o cabelo e aumenta o seu volume.

PIGMALIÃO. Tipo de corte em que o cabelo apresenta diferentes comprimentos, ficando mais curto na parte de cima da cabeça e mais comprido para baixo. O mesmo que camadas ou "dégradée".

PRANCHA. Alisamento quente para tirar a ondulação do cabelo e unificar as pontas. O mesmo que chapinha ou piastra.

REFLEXO. Clareamento de mechas finas de cabelo, produzindo tom claro sobre tom escuro.

RELAXAMENTO. Alongamento de cabelos crespos, trabalhando desde a raiz.

RINSAGEM. Aplicação de produto próprio, diferente de tinta, para colorir cabelos grisalhos ou bem descolorados. Menos duradoura que a tintura.

"SPRAY" COLORIDO. Produção de efeito provisório de tom sobre tom. O produto sai ao lavar o cabelo.

TINTURA. Coloração. Mudança da cor do cabelo, com produto à base de oxidante, em geral amônia, que penetra nas escamas do cabelo.

TOUCA. Ato de rodear o cabelo na cabeça, com o auxílio de pente e de pinças ou grampos, de modo a torná-lo flexível. Apresenta a variação TOUCA DE GESSO, que amplia a ação da touca comum, por também alongar cabelos crespos; depois de feita a touca, é aplicado o pó de gesso.

TRANÇA. Tipo de penteado em que é feito o cruzamento das mechas divididas no cabelo. Apresenta as variações: TRANÇA NORMAL, com o cruzamento das mechas feito de dentro para fora, e TRANÇA EMBUTIDA, com o cruzamento de fora para dentro.

Para aprimorar um pouco mais essa lista, resolvi colocar alguns outros termos que não apareciam no texto dela, mas tem certa relevância:

LEAVE IN. São condicionadores sem enxágüe. Por terem um conteúdo lipídico menor são mais leves e evitam o aspecto de cabelo engordurado (se a aplicação não for exagerada, logicamente)

PRODUTOS PARA DAR CORPO OU VOLUME. São produtos que possuem agentes químicos que retém água no cabelo, deixando-o hidratado e intumescido (“inchado”), o que confere uma sensação de mais volume ao fio.

PRODUTOS PARA DAR BRILHO. São produtos capazes de deixar a cutícula capilar (que são células achatadas, que se dispõe como “telhas de casa” sobre o fio capilar, protegendo-o) mais plana, assim, quanto mais plana estiverem, mais luz será refletida. É como olhar-se em um rio, se as águas estiverem paradas ele refletirá a sua imagem perfeitamente, já se uma brisa mover essas águas, não será mais possível ver o reflexo da luz.

XAMPU ANTI-RESÍDUO (ou Clarifying). São xampus que contem basicamente os detergentes/agentes de limpeza. Eles permitem a limpeza do fio sem deixar resíduos. É indicado para pessoas que tenham o costume de usar condicionadores sem enxágüe, spray fixador, ceras, géis e etc. Eles apresentam um pH a cima de 7 (alcalino) que provoca a abertura da cutícula. Isso possibilita uma limpeza maior. Mas é importante lembrar que esse tipo de xampu pode dar um aspecto de ressecado ao cabelo, por isso é importante a aplicação de um bom creme hidratante após o seu uso.

CERAS E POMADAS. São produtos à base de ceras capazes de resolver o problema dos cabelos arrepiados (ou “do frizz”). Eles ajudam também a moldar alguns penteados e aumentar o tempo de duração desses.

Existem ainda outros termos que não me ocorreram, mas se surgir alguma dúvida é só postar que eu tento responder!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A química do alisamento capilar



A procura por produtos e processos capazes de alisar os cabelos, é cada vez maior nos salões de beleza. Devido a isso, diferentes produtos e tipos de tratamento são oferecidos às clientes. Contudo, a diferença entre a ação dos ativos, os danos causados por esses e a efetividade do tratamento para cada tipo de cabelo são desconhecidas.
Com base nisso, fiz meu trabalho de conclusão de curso (lá na graduação ainda) sobre a ação desses ativos químicos, bem como a análise das formulações de produtos para o alisamento capilar disponíveis no mercado.
Encontrei quatro ativos com uso aprovado pela ANVISA:
- tioglicolatos (os mais usados pelos produtos de marcas famosas como L'Oreal, Wella, Schwarzkopf),
- hidróxidos (sódio, cálcio ou lítio),
- guanidina,
- pirogalol (O antigo Henê Pelúcia)
Suas ações modificam a estrutura capilar por rompimento (e posterior rearranjo) das pontes de dissulfeto (formada por 2 moléculas de enxofre), na estrutura da queratina, ou por transformação dessas mesmas ligações em pontes de sulfeto (formada por 1 molécula de enxofre). A primeira modificação não é definitiva e pode ser revertida (um cabelo alisado pode ser novamente encaracolado), todavia a segunda modificação é definitiva (irreversível).
A coerência do nome dos tratamentos, entretanto, com o tipo de ação do ativo, não existe. No mercado, tanto a “escova progressiva”, quanto a “escova definitiva”, não seguem um padrão de produto aplicado a cada uma. Na realidade o que muda apenas é a concentração do ativo, pois quanto mais concentrado ele estiver, mais pontes de dissulfeto ele irá modificar alisando mais os cabelos. Logicamente que existe uma concentração máxima para cada ativo. Também existe todo um trabalho de marketing que leva a criação de diferentes nomes para os mesmos tratamentos. Isso para chamar a atenção das clientes e diferenciar um novo produto no mercado, dai surgem a famosa escova de chocolate, escova marroquina, escova de morango (e de outra tantas frutas cheirosas).
Essas formulações contêm, além do ativo alisante, uma quantidade alta de agentes para reposição da porção lipídica (oleosa, responsável pela hidratação e brilho do fio), a qual é perdida durante o tratamento, deixando o cabelo mais frágil (suscetível a agressões de agentes externos como o sol, vento, secador de cabelo e chapinha) e com aparência ressecada. Por isso existe uma necessidade tão grande de hidratar periodicamente os cabelos que sofreram algum processo de alisamento.
Embora todas as formulações tenham quase sempre o mesmo ativo, com concentrações parecidas, a diferença entre cada uma irá se dar pelos chamados adjuvantes (que são os outros componentes presentes, além do ativo). Entre os principais adjuvantes estão: silicones, óleos (como o de castanha, buriti, macadâmia), algumas manteigas (como a de cacau) e essências. Óleos, silicones e manteigas têm como principal objetivo repor os ácidos graxos que ficam naturalmente ligados à superfície do fio de cabelo conferindo proteção, maleabilidade (que é a capacidade do fio de mover-se sem quebrar) e brilho. Já as essências (que muitas vezes são colocadas no nome do tratamento, como no casa da escova de chocolate/morango) são usadas para mascaras o odor desagradável que o ativo alisante tem (pelo que me informei, a escova marroquina usa uma forte essência de baunilha).
Embora exista a diferença teórica nos processos de alisamento, os tratamentos disponíveis no mercado não apresentam essa diferença nas suas nomenclaturas. É necessário procurar um profissional com uma experiência consistente no assunto para escolher o tipo de ativo, para gerar o resultado esperado. Assim como xampus e condicionadores, cada cabelo se adapta melhor com uma marca. Não há como definir qual a melhor formulação para cada cabelo, apenas qual o ativo.

Quando pensamos na possibilidade de um caseiro, embora mais barato, é preciso lembrar que ele é mais arriscado. O tempo de permanência dos produtos em contato com os cabelos pode ser mal controlado, gerando um alisamento deficiente (pelo tempo ter sido menor que o indicado) ou danos, como quebras do fio de cabelo, irreversíveis (por tempo de contato em excesso). Além disso, muitas pessoas não têm condições de identificar riscos de incompatibilidades entre ativos (SIM! Existe incompatibilidade entre esses ativos e até mesmo deles com tintas e outras químicas capilares!).Dessa forma, o mais seguro é a aplicação em salões de beleza, sob os cuidados de profissionais com conhecimentos mínimos no assunto. Para isso, a busca por salões mais experientes no mercado, que utilizam produtos registrados na ANVISA, é o ideal.


A motivação

Nas últimas décadas, a beleza tornou-se o alvo, tanto de mulheres como de homens, no mundo inteiro. Definida pelas tendências de cada época, a moda dita os padrões ideais. Nesse contexto, não se visa somente a “perfeição” em roupas, calçados e acessórios, mas também em pele, unhas e, principalmente, cabelos. Segundo o censo do Franchising 2000, salões de beleza movimentam 3,1 milhões de reais por ano, atendendo clientes dentre os quais muitos estão permanentemente insatisfeitos com sua aparência física.
O conceito da imagem corporal segundo Osório (1992) é uma representação de experiências passadas e presentes, reais ou fantasiadas, conscientes ou inconscientes; é a idéia que o indivíduo tem de si próprio.
A necessidade de adquirir uma adequação física e social é dinâmica e muitas vezes pode pressionar homens e mulheres a buscar a aceitação em seus grupos de iguais. A parti de uma não aceitação podem surgir tensões e conflitos que resultarão em sentimentos de ansiedade, inferioridade, baixa auto-estima e retraimento súbito ou gradual (Kaplan & cols., 1997). Segundo Outeiral (1994), o corpo, nesse momento, assume um importante papel na aceitação ou rejeição por parte "da turma".
Assim, a busca por uma melhora na aparência física, abre as portas para o grande mercado dos cosméticos. Produtos surgem com milhares de promessas que muitas vezes não se cumprem e o consumidor leigo acaba sempre tendo que "pagar para ver".

É nesse âmbito que surgiu a idéia do presente Blog.

Permitam-me que eu me apresente: Meu nome é Denise, sou mestre em ciências farmacêuticas (e agora doutoranda) na área de cosmetologia. Sempre fui uma apaixonada pela área cosmecêutica, mas sempre senti uma carência de informações sobre o assunto, principalmente para leigos. Assim resolvi criar esse Blog, para discutir sobre o que são, como funcionam, mitos e verdades sobre cosméticos!

Espero que todos apreciem e participem através de discussões e informações!

A Estrutura da Pele

A pele é o maior órgão do corpo humano, composta por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme (camada mais interna de tecido adiposo). Ela atua como uma barreira protetora, prevenindo a perda de água e bloqueando a entrada de agentes exógenos.
Epiderme: é constituída de várias camadas de queratinócitos (células responsáveis pela produção de queratina) em diferentes estágios de maturação. Essa é a camada responsável pela prevenção da desidratação das demais camadas. Na epiderme está o extrato córneo, que é a parte mais externa da epiderme. O extrato córneo é a barreira protetora contra a penetração de substâncias estranhas ao corpo.
Derme: é um tecido elástico e resistente que proporciona resistência física ao corpo inteiro. Essa camada fornece os nutrientes para a derme e é formada por células como fibroblastos, granulócitos, colágeno, elastina, glicosaminoglicanos e glicoproteínas.


A Estrutura do Cabelo

O fio de cabelo é formado pelos seguintes componentes: a cutícula, o córtex e a medula.
Cutícula: é constituída por proteínas, é parte mais externa do fio, sendo responsável pela proteção das células do córtex. É a camada cujas propriedades estruturais servem de proteção contra influências externas, ela é responsável pelo ingresso e egresso de água, o que permite manter as propriedades físicas da fibra. É formada por células escamosas de queratina que se sobrepõem umas as outras, lembrando escamas de peixe, formando uma cobertura.
Cortex: ocupa a maior área seccionada do fio (75 %) e é constituído por células ricas em ligações cruzadas de cistina (enxofre) e células rígidas separadas uma a uma por uma membrana celular. O córtex é formado por macrofibrilas de queratina alinhadas na direção do fio. Distribuídos aleatoriamente no córtex estão os grânulos de melanina cujo tipo, tamanho e quantidade determinam a cor do cabelo.
Medula: No interior do córtex está localizada a medula, porém esse componente pode estar presente ou ausente ao longo do comprimento do fio.