terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Plástica Capilar?

"Se a tesoura não está nos seus planos, ou mesmo enfrentar o verão com os cabelos curtos, invista em técnicas poderosas de recuperação dos fios, como fez a comediante Claudia Rodrigues. Ela utilizou a técnica de plástica capilar das 12 proteínas para recuperar o aspecto saudável dos fios, que são tingidos."

Esse trecho foi retirado de uma reportagem do site Beleza e Bem Estar (Terra), que me foi enviado por e-mail hoje. Ao ler essa reportagem levei um choque: “Como assim PLÁSTICA CAPILAR???”
O nome é muito estranho, e mais estranho ainda eram os componentes da fórmula que o site citava. Entre eles estavam:

- damasco
- ginseng
- extrato de rubi
- queratina
- proteínas da seda
- polímeros de silicone
- óleo de cacau
- melaço da cana
- aminoácido
- ômega 3


Fui para literatura científica (que sinceramente é a única que ainda confio) para ver se havia alguma referência de uso desses componentes. Abaixo estão alguns achados.

Damasco: Existe um produto para crescimento capilar e restauração que usa “Japanese Apricot”, que acredito ser um tipo de damasco. A patente relata que o extrato é capaz de auxiliar no crescimento e regeneração da fibra capilar (mas não achei a explicação do porque).

Ginseng: Alguns estudos indicam uma ação para crescimento capilar e restauração medular. A medula capilar não está presente em toda a haste (somente na porção inicial – na parte que fica para dentro da pele), e tem pouca participação na estruturação do fio (no seu brilho, maleabilidade), não sendo alvo dos produtos cosméticos. Nesses estudos são feitos testes in vitro utilizando cultura celular, ou seja, a aplicação in vivo, tópica, não foi testada (não se sabe se o extrato de ginseng é capaz de permear a pele para atingir o bulbo capilar auxiliando na reconstrução da medula e no crescimento).


Obviamente que extrato de rubi e o melaço de cana não tinham referências de uso na literatura científica. Sinceramente, acredito que não seja possível fazer um extrato de rubi. Os demais componentes são utilizados por suas propriedades emolientes e protetoras.

Procurando um pouco mais a respeito desse tratamento, achei no site da Abril.com (Revista Boa Forma) uma explicação mais plausível a respeito:

"Essa nova técnica de revitalização foi desenvolvida pela indústria cosmética japonesa (sim, a mesma que criou o recondicionamento térmico para alisamento de longa duração) e, em pouco tempo, ganhou adeptas fervorosas no mundo todo. Tecnicamente, trata-se de um processo capaz de repor as proteínas perdidas. “Em outras palavras, significa nutrir internamente os fios, o que vai deixá-los macios, brilhantes, maleáveis”, explica Aldeni Ribeiro, proprietária do salão Lay Out, em São Paulo (SP), um dos primeiros a divulgar a técnica."


Em outras palavras, trate-se de um procedimento já conhecido: a (re)queratinização capilar.
A queratina é a proteína predominante na estrutura do fio capilar. Quando o fio passa por processos como limpeza, escovação ou tratamentos químicos, uma quantidade grande de queratina é perdida ou danificada. Isso leva a uma diminuição na maleabilidade do fio (ele fica mais quebradiço), perda do brilho e ressecamento.
Para o alisamento capilar, por exemplo, é necessária a desestruturação dessas cadeias protéicas para poder dar nova forma aos cabelos. Embora exista uma etapa para a recomposição das cadeias de queratina, geralmente essa é incompleta, e nem todas as cadeias desestruturadas voltam a se reestruturar. Assim o fio fica danificado, mais frágil e mais vulnerável.


Dessa forma, muitos produtos para recuperação capilar são preparados primordialmente com queratina. Outras proteínas também são incorporadas para tentar reestruturar o fio capilar. Na plástica capilar (assim como em outros tratamentos iguais, porém com nomes diferentes) os passos são basicamente os seguintes:

- Lavagem inicial dos cabelos com xampu de limpeza profunda: esses xampus possuem um pH a cima de 7, o que proporciona a abertura da cutícula capilar, permitindo uma limpeza maior. Além disso, essa abertura das cutículas ainda irá permitir que o próximo produto aplicado tenha uma penetração maior (mais profunda).

- Aplicação de um creme a base de queratina e outras proteínas: para tentar reparar os danos que o cabelo sofreu. Nessa etapa pode-se aplicar uma fonte de calor, para acelerar e aumentar a penetração desses ativos.

- Aplicação de um segundo creme: esse segundo creme pode ser aplicado ou não. Geralmente ele contém alguns outros componentes condicionantes, emolientes, para um resultado melhor. Muitas vezes esses cremes podem conter ceramidas. As ceramidas têm um papel de “cimento” entre as cutículas, ou seja, são capazes de fechar aquelas cutículas que foram inicialmente abertas, deixando o cabelo com um aspecto mais sedoso, mais “solto”.

- Escova ou chapinha (prancha): como última etapa aplica-se uma nova fonte de calor para “selar” os produtos no cabelo, ou seja, garantir a fixação deles à haste capilar, assim como tentar fazer o fechamento das cutículas abertas. Além disso, a chapinha ou a escova conferem um formato mais organizado aos cabelos, sendo uma espécie de retoque final.

Sinceramente eu acredito que essa última etapa seja feita mais para garantir um cabelo bonito no final, para que a cliente acredite que o tratamento realmente funcionou (não que não funcione, mas milagres não são possíveis). O correto seria deixar o cabelo secar naturalmente pra ver o aspecto real que ele ficou.


Algumas referências interessantes para se ler são:

Polymer, vol. 39, n.16, pag.3835-3840, 1998.

Clinics in Dermatology, vol. 19, pag. 341-346, 2001.

Phytotherapy. Research, vol. 17, pág. 797–800, 2003.

U.S. Patent number: 4369037 - Hair treatment cosmetics containing cationic keratin derivatives.

Site da revista Boa Forma: http://boaforma.abril.com.br/beleza/cabelo/plastica-cabelos-497254.shtml?pagina=0

Reportagem retirada do Site do Terra - http://beleza.terra.com.br/mulher/interna/0,,OI4130167-EI7590,00-Plastica+capilar+das+proteinas+impressiona+a+comediante.html

Se surgirem dúvidas é só perguntar!

5 comentários:

Roberto Camara disse...

Colega,

Há uma verdadeira corrida atrás de algo que não sejam:

* Tióis
* Hidróxidos

Para alisar cabelos, pois é muito mais fácil vender produtos com formol e/ou algo do gênero, que liberam a substância quando aquecido, do que ensinar os cabeleireiros (quase em sua maioria semi-analfabetos)a trabalharem corretamente com as substâncias permitidas.

Darei uma sugestão sobre o "chapar" o cabelo, com produto à base de queratina.

Se você ler a literatura de todas as proteínas e aminoácidos existentes para o mercado cosmético, encontrará um dado primordial:
Incorporação: fase externa, abaixo de 40ºC.

E por que isso? Porque acima deste patamar, as proteínas (todas, sem exceção) perdem suas propriedades...

Então, pegue um produto que recebeu uma quantidade x de queratina, praticamente atuando como um veículo, e o sujeito ou a sujeita pega uma chapinha a 250, 300, 400ºC e passa em cima.

Conclusões ficam a critério de vocês..rs

Obrigado pela luz que tenta passar (mas acho que é difícil... o fim do túnel está bem, bemmmmm longe!

Denise Soledade Jornada disse...

Prezado Roberto

Assim como é verdade que existe uma busca por produtos sem tiol ou sem hidróxido para alisar (E veja bem tiol e hidróxido não tem NADA A VER com formol) é verdade que dificilmente alguém ache algo!
Pra alisar o cabelo de forma definitiva ou o mais duradoura possível só com reação química!
Do contrário não se tem o alisamento.
Um cabelo bem hidratado tem um frizz menor, fica mais "comportado", o que da a "falsa"idéia de alisamento!

Agora tu sabe que eu nunca tinha parado pra pensar nisso que tu falou!?! Realmente!!! Proteínas desnaturam acima de 40 graus.... hummm... vou estudar mais a respeito disso e vou por em um próximo post!
Obrigada pela contribuição!

Anônimo disse...

Olá Denise,

Dentre os ativos que prometem alisar os fios estão surgindo alguns "novos",como a carbocisteína e a cysteamine,ambos necessitando de um agente alcalinizante.Pois bem está muito díficil escontrar informações sobre esses ativos na literatura e a maior parte das respostas vindas das empresas de cosméticos são muito vagas.Será que você poderia uma luz no assunto?

Att,

José oliveira

Anônimo disse...

Olá,
O comentário feito pelo Roberto é muito pertinente,me lembro na faculdade que foi levantada uma discurssão sobre o efeito da piastra nos cabelos.
Bem realmente quando chega em uma determinada temperatura a proteína(queratina) desnatura,no entanto tem alguns fatores que precisamos acrescentar...
Geralmente em um processo de cauterização ou plástica capilar,é usado a piastra no cabelo úmido(com produto)e em movimento,assim o cabelo não chega a elevadas temperaturas, mesmo a piastra estando numa temperatura de 180°c ou até em 220°c.
Gostaria de saber Denise se existe alguma pesquisa feita em laboratório que comprove a temperatura exata que o cabelo(seco/molhado)chega e suporta com o uso da piastra.

José oliveira

Denise Soledade Jornada disse...

Respondida a questão da desnaturação de proteínas!
http://entendendocosmetologia.blogspot.com/2010/11/o-calor-que-mata.html

A Estrutura da Pele

A pele é o maior órgão do corpo humano, composta por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme (camada mais interna de tecido adiposo). Ela atua como uma barreira protetora, prevenindo a perda de água e bloqueando a entrada de agentes exógenos.
Epiderme: é constituída de várias camadas de queratinócitos (células responsáveis pela produção de queratina) em diferentes estágios de maturação. Essa é a camada responsável pela prevenção da desidratação das demais camadas. Na epiderme está o extrato córneo, que é a parte mais externa da epiderme. O extrato córneo é a barreira protetora contra a penetração de substâncias estranhas ao corpo.
Derme: é um tecido elástico e resistente que proporciona resistência física ao corpo inteiro. Essa camada fornece os nutrientes para a derme e é formada por células como fibroblastos, granulócitos, colágeno, elastina, glicosaminoglicanos e glicoproteínas.


A Estrutura do Cabelo

O fio de cabelo é formado pelos seguintes componentes: a cutícula, o córtex e a medula.
Cutícula: é constituída por proteínas, é parte mais externa do fio, sendo responsável pela proteção das células do córtex. É a camada cujas propriedades estruturais servem de proteção contra influências externas, ela é responsável pelo ingresso e egresso de água, o que permite manter as propriedades físicas da fibra. É formada por células escamosas de queratina que se sobrepõem umas as outras, lembrando escamas de peixe, formando uma cobertura.
Cortex: ocupa a maior área seccionada do fio (75 %) e é constituído por células ricas em ligações cruzadas de cistina (enxofre) e células rígidas separadas uma a uma por uma membrana celular. O córtex é formado por macrofibrilas de queratina alinhadas na direção do fio. Distribuídos aleatoriamente no córtex estão os grânulos de melanina cujo tipo, tamanho e quantidade determinam a cor do cabelo.
Medula: No interior do córtex está localizada a medula, porém esse componente pode estar presente ou ausente ao longo do comprimento do fio.